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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

POR QUE COMEMOS ISTO?

 

Alunos analisam fatores que influenciam os hábitos alimentares - nem sempre saudáveis

 

Amanda Polato (Amanda Polato)
Revista Nova Escola: http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/comemos-isto-426208.shtml


Quando o professor José Maria Rodrigues Soares começou a discutir em sala o conteúdo calórico e os nutrientes dos alimentos, os estudantes de 7a série da Escola de Educação Básica e Profissional Embaixador Espedito de Freitas Resende, em Teresina, ficaram preocupados. Afinal, eles preferiam produtos pouco saudáveis vendidos em lanchonetes. Para esclarecer as dúvidas da garotada e dar uma abordagem diferente ao tema, José Maria elaborou o projeto Hábitos Alimentares: uma Questão Sociocultural.“Minha proposta era investigar os principais fatores econômicos, sociais e culturais que influenciam a construção do nosso cardápio particular”, resume.

Aprender sobre hábitos alimentares...

■ Amplia a compreensão do valor dos nutrientes.
■ Mostra que a alimentação influencia diretamente a saúde.
■ Favorece a reflexão sobre a escolha do que comer.

A turma se perguntava sobre a razão de consumir tantas coisas industrializadas, como salgadinhos e refrigerantes. Mais do que isso, queria saber o que, de fato, faz bem ou mal.“Muitas vezes os jovens não têm consciência do que é gordura em excesso”, afirma a presidenta da Associação Brasileira de Nutrição, Andréa Pólo Galante. O tema já é um conteúdo consagrado nas aulas de Ciências e pode ser enriquecido com conhecimentos que dizem respeito diretamente à vida dos estudantes.

Marcos Engelstein, responsável pela seleção do projeto de José Maria entre os 50 melhores da edição de 2006 do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, avalia que o professor teve o mérito de destacar a influência cultural e social dos hábitos alimentares e analisar criticamente a mídia no que diz respeito à publicidade (leia o quadro). “Talvez o hábito dos adolescentes não mude porque não é algo tão simples, mas eles vão se questionar mais na hora de escolher o que comer.”

PESQUISA

Fatores que influenciam os hábitos alimentares. Ilustração: Lucas Pádua
Fatores que influenciam os hábitos alimentares.
Ilustração: Lucas Pádua
Os adolescentes e a mídia: análise de propagandas

Os alunos de José Maria observaram propagandas de TV com olhar crítico e passaram a registrar a freqüência diária de anúncios de guloseimas e produtos industrializados. Sobre um comercial de refrigerante, Lya Mendes, 15 anos, disse: “Fala das suas vantagens, induzindo ao consumo de outros produtos, como pizza e salgadinhos. Os lugares mostrados são aconchegantes, com pessoas praticando esportes”. Por isso, segundo ela, o alvo deve ser os jovens. O campeão de aparições na TV é a pizza. Já o arroz e o feijão eram acompanhados de refrigerantes e até bebidas alcoólicas, sem referência a frutas e verduras, como percebeu Taynã da Rocha Santos, 14 anos. O gráfico ao lado mostra os fatores que mais influenciam os hábitos alimentares da comunidade escolar, segundo a pesquisa realizada pela turma.

Fonte: Pesquisa de alunos da Escola de Educação Básica e Profissional Embaixador Espedito de Freitas Resende.
Valores nutricionais

As atividades tiveram início com um debate em grupo sobre o valor nutricional do que cada um costumava comer. “Os alunos levantaram hipóteses sobre o porquê da predileção por salgados, refrigerantes e pizzas na hora do recreio”, conta José Maria. Na primeira parte da investigação, eles examinaram o rótulo dos produtos que mais consumiam. Depois, partiram para a coleta de dados sobre hábitos dos familiares, por meio de entrevistas, e analisaram o cardápio da merenda escolar.

Também em equipe, a turma estudou mais a fundo conteúdos como função dos nutrientes no organismo, consumo, aditivos e doenças causadas por maus hábitos alimentares. Livros, revistas, jornais e internet foram empregados na pesquisa e cada time apresentou seu subtema utilizando painéis, montados com a ajuda da professora de Arte. Foram produzidos ainda artigos, cartilhas e folhetos informativos para a distribuição entre os alunos do Ensino Fundamental, socializando todo o conhecimento.

O projeto incluiu também uma pesquisa realizada com cerca de 400 colegas das demais classes da escola. Dessa forma, foram coletadas informações sobre os costumes da comunidade. O questionário continha perguntas sobre renda familiar, idade e itens mais consumidos por refeição. Outro ponto levantado dizia respeito aos fatores que contribuem para a formação dos hábitos.As opções incluíam itens como vizinhos, parentes, amigos, receitas regionais e mídia. A tabulação e a análise das respostas foram feitas com a ajuda dos professores de Matemática e Informática.“ A turma concluiu, entre outros pontos, que os alimentos mais consumidos apresentam um alto teor calórico, que a escolha está condicionada ao poder aquisitivo e à cultura, mas que sofre uma grande influência da TV”, destaca o professor.

Reflexão gera mudança
Para avaliar os resultados do trabalho, José Maria acompanhou durante o processo como todos estavam organizando suas idéias e elaborando novos conhecimentos. Além disso, ele examinou produções textuais e seminários e aplicou provas escritas. Para ele, o mais relevante foi perceber uma mudança de postura dos jovens em relação aos hábitos alimentares.“Já há menos rejeição ao lanche oferecido pela escola, que inclui frutas e outros produtos naturais”, conta.

O consultor Mário Domingos, da Sabina Escola Parque do Conhecimento, de Santo André (SP), considera positivo o fato de os alunos pensarem sobre suas escolhas.“Esse comportamento está além dos conteúdos aprendidos e terá reflexos no futuro deles.”Mário faz um alerta: deve- se considerar que, no contexto da realidade dos alunos, é quase impossível viver sem os alimentos industrializados.“ É relevante provocar reflexão e oferecer opções de alimentação, mas o discurso não deve ser moralista”, diz o consultor.

Quer saber mais?

CONTATO
Escola de Educação Básica e Profissional Embaixador Espedito de Freitas Resende
, R. 68, s/no, 64077-450, Teresina, PI, tel. (86) 3236-2001 

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